sexta-feira, 12 de novembro de 2010

MOMENTO DA POESIA.

CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte, e o medo de depois da morte,
depois morremos de medo 
e sobre os nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

Carlos Drummond de Andrade - Antologia Poética 1962

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